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Cientistas investigam tipo de alimentação que previna acidose em gado confinado

Pesquisa com nutricionistas afirma que a doença, segundo maior problema de saúde deste tipo de rebanho, está ligada ao concentrado alimentar usado para aumentar produção de leite

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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Melhorar a produtividade na pecuária brasileira implica não apenas encontrar maneiras de fazer com que o gado produza mais carne ou mais leite, mas também enfrentar problemas como doenças. Uma delas, a acidose ruminal, atinge principalmente animais mantidos em sistema intensivo de criação e apresenta alta taxa de mortalidade mesmo nos casos tratados.

No animal afetado há intensa produção de ácido láctico e queda no pH do rúmen, o primeiro compartimento do estômago dos ruminantes - também conhecido como pança. O ácido láctico em excesso no rúmen termina por fermentar e inchar o órgão com gases, o que pode levar o animal ao sufocamento.

De acordo com uma série de pesquisas realizada por Danilo Domingues Millen e Cassiele Aparecida de Oliveira, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Dracena, a acidose foi em 2014 o segundo maior problema de saúde reportado por nutricionistas de gado confinado, com 37,5%, atrás apenas de problemas respiratórios, com 40,4%, e bem à frente da cisticercose, com 9,4%.

"Fizemos três estudos, em 2009, 2011 e 2015, a partir de questionários com cerca de 80 perguntas técnicas dirigidas a nutricionistas que trabalham com gado confinado em todo o país", disse Millen sobre os estudos, que contaram com apoio da FAPESP. "No Brasil, trabalhamos no primeiro estudo com 31 nutricionistas e, nos outros dois, com 33. Eles são responsáveis por algo em torno de 90% de todo o gado confinado no país."

Método comum de engorda tende a estimular acidose

Os estudos com nutricionistas indicaram que a quantidade de concentrado alimentar tem aumentado desde 2009. Isso significa o uso de maior quantidade de carboidratos, já que o ruminante utiliza os ácidos produzidos no rúmen - espécie de câmara de fermentação - para obter a energia de que precisa para produzir de leite ou ganhar peso, como explica Millen.

"Então é preciso formar ácido, que é absorvido pela parede do rúmen, vai para o fígado e é usado pelo animal como energia", elucida. "Para aumentar a produtividade, é preciso colocar na alimentação produtos de maior qualidade, que também são carboidratos que fermentam muito rápido, de modo que o animal ganhe mais peso e produza mais leite e mais rapidamente, e não dá para fazer isso somente em pasto."

Carboidratos, no entanto, estimulam problemas como a acidose, que derivam de um excesso de fermentação, sublinha o pesquisador. "Quando a taxa de produção de ácidos é muito mais alta do que a de absorção, de retirada do rúmen, ocorre o distúrbio chamado de timpanismo, decorrente da acidose, e o animal incha pelo acúmulo anormal de gases no estômago. O rúmen aumenta de tamanho e o animal fica com dificuldade de respirar, podendo morrer."

Aditivos manipuladores de fermentação

Uma alternativa para diminuir o problema é o uso de aditivos na alimentação, que levem o animal a produzir menos ácidos que possam causar problemas.

"Em nosso grupo, temos pesquisado aditivos, que são microingredientes fornecidos aos animais em doses de 1 ou 2 gramas por dia. Eles exercem papel benéfico no rúmen, na fermentação. Dentre os ácidos produzidos no rúmen há ácidos fracos e fortes. Os ácidos fracos são mais benéficos para o animal ganhar peso e produzir leite. Ou seja, são aqueles que têm menor capacidade de fazer o pH cair. Entre os ácidos fortes há o conhecido ácido láctico, que o animal tem menos capacidade de absorver", disse Millen.

"Usamos aditivos, como os ionóforos [moléculas solúveis em lipídios], que matam parte das bactérias que levam à produção do ácido láctico. Com esses aditivos, podemos controlar a produção de ácido láctico e é muito menos provável que o animal tenha acidose e timpanismo", disse. Hoje, a maioria dos criadores de gado confinado no Brasil usa ionóforos na alimentação.

Os pesquisadores do grupo de Millen encontraram evidências de que o gado Nelore pode ser mais sensível à acidose do que outras raças, como as criadas nos Estados Unidos e Europa. Estudos futuros serão realizados para investigar a questão.

Outro foco do grupo está em estudos de adaptação. Os pesquisadores investigaram, por exemplo, qual seria o tempo mínimo ideal de transição, com relação à alimentação dos animais do pasto para o confinamento.

"Quatorze dias é a janela mínima que observamos para retirar o animal do pasto e fazê-lo comer cerca de 80% ou 85% de concentrado. É o intervalo para transicionar o animal, mudar sua dieta gradualmente de modo a tentar evitar problemas digestivos, como a acidose", disse Millen.

Durante a FAPESP Week Nebraska-Texas, evento que reuniu pesquisadores dos Estados Unidos e do Brasil de 18 a 22 de setembro nas cidades de Lincoln (Nebraska) e Lubbock (Texas), Millen apresentou à plateia da University of Nebraska-Lincoln os resultados de seus estudos junto a nutricionistas e de pesquisas sobre alimentação de ruminantes, que seguiu modelo desenvolvido nos Estados Unidos pelo professor Michael Galyean, atualmente pró-reitor de pesquisa da Texas Tech University - instituição participante da FAPESP Week. A palestra de Millen objetivava traçar um cenário da evolução das recomendações nutricionais e de práticas de gerenciamento empregadas na produção de gado confinado no Brasil.

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