Num estudo recente publicado na revista científica Cell Reports*, uma equipa de investigação liderada por Colin Adrain, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC, Portugal), descobriu o mecanismo que controla a libertação de moléculas que despoletam a resposta inflamatória no caso de infeção. Quando esta maquinaria é desregulada pode contribuir para importantes doenças crónicas, como é o caso da doença inflamatória intestinal, artrite e cancro.
A maior parte das proteínas envolvidas na comunicação entre células reside na superfície da célula, presas à membrana. É o caso da molécula inflamatória, TNF. Quando esta molécula é libertada da membrana liga-se a um receptor na superfície das células, ativando uma cascata de eventos que alteram o comportamento da célula, preparando-a e ao tecido que a rodeia para combater a infeção. No entanto, numa série de doenças inflamatórias a TNF encontra-se desregulada, sendo assim alvo de várias estratégias terapêuticas.
As terapias para doenças anti-inflamatórias focam-se no bloqueio da ação da TNF. Embora as terapias anti-TNF estejam atualmente a ser usadas para tratar pacientes, nem sempre funcionam eficientemente. Se conseguirmos compreender a maquinaria que controla a libertação da TNF talvez consigamos identificar novos alvos que nos permitam intervir de uma forma mais específica, ou mais potente, em doenças inflamatórias, explica Colin Adrain.
Neste trabalho, a equipa de Adrain foi capaz de dissecar os mecanismos moleculares envolvidos na libertação da TNF. Sabia-se que estas moléculas são cortadas da superfície da célula por uma enzima denominada por TACE que atua como uma tesoura molecular para libertar a TNF e outras moléculas importantes da célula. Agora, os investigadores observaram que a chave para controlar estas tesouras encontra-se na regulação de uma proteína chamada iRhom2. Isto coloca a iRhom2 no centro da maquinaria que regula a libertação da TNF das células, diz Miguel Cavadas, primeiro autor deste estudo.
Uma importante característica deste novo mecanismo identificado é que a mesma proteína, iRhom2, é importante para controlar a libertação de fatores de crescimento que desencadeiam o crescimento das células associado a muitos cancros epiteliais.
###
Este trabalho foi conduzido e apoiado pelo IGC, e foi financiado pelo Worldwide Cancer Research, uma instituição de beneficência internacional que apoia investigação em cancro. Investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB-NOVA; Portugal), University of Edinburgh (Reino Unido), e Universität Wien (Áustria) colaboraram neste estudo.
*Cavadas, M., Oikonomidi, I., Gaspar, C.J., Burbridge, E., Badenes, M., Félix, I., Bolado, A., Hu, T., Bileck, A., Gerner, C., Domingos, P.M., von Kriegsheim, A., Adrain, C. (2017) Phosphorylation of iRhom2 Controls Stimulated Proteolytic Shedding by the Metalloprotease ADAM17/TACE. Cell Reports, 21:3, 745-757. http://dx.doi.org/10.1016/j.celrep.2017.09.074
Journal
Cell Reports