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Pesquisa brasileira encontra novos meios de combater a fibrilação atrial, condição que aumenta risco de AVC e demência

Estudo investigou a relação da inflamação crônica com o desenvolvimento da arritmia cardíaca, identificando possíveis alvos terapêuticos

Peer-Reviewed Publication

D'Or Institute for Research and Education

Uma pesquisa brasileira recém-publicada na Nature Cardiovascular Research destacou novos caminhos para a prevenção e o tratamento da fibrilação atrial, condição que aumenta os riscos para AVC e demência. O estudo foi coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Fibrilação atrial

A fibrilação atrial é a arritmia cardíaca mais comum na população mundial. Trata-se de um descompasso no ritmo dos batimentos do coração, que se tornam irregulares e acelerados. Associado a um risco aumentado para AVC, demência e insuficiência cardíaca, o problema também está relacionado com o surgimento de hipertensão, obesidade e apneia do sono, que agem como agravantes do quadro clínico.

Embora mais frequente em idosos, atingindo cerca de 10% da população com mais de 80 anos, o diagnóstico de fibrilação atrial entre pessoas mais jovens vem aumentando devido a mudanças no estilo de vida e aumento do estresse crônico. Apesar de sua alta prevalência, as causas subjacentes a essa arritmia nem sempre são claras, o que dificulta o seu tratamento.

Levando esse desafio em consideração, os pesquisadores do estudo investigaram o papel da inflamação crônica como um potencial gatilho direto para o desenvolvimento da fibrilação atrial, abrindo novas possibilidades para a investigação de terapias e medicamentos específicos para a condição.

Inflamação e Fibrilação Atrial
A inflamação crônica é um denominador comum a muitas condições associadas à fibrilação atrial, mas não se sabe exatamente o que conecta esse processo ao descompasso cardíaco. O coordenador do estudo, Prof. Emiliano Medei, pesquisador do IDOR e da UFRJ, demonstrou que a interleucina 1 beta (IL-1β), uma molécula do sistema imunológico que regula processos inflamatórios, pode alterar diretamente envolvida na atividade elétrica do coração, criando condições para o surgimento da fibrilação atrial.

“O presente trabalho traz um marco científico chave na área do conhecimento, muitos trabalhos de revisão já apontavam que a IL-1β poderia ter um papel vital na fibrilação atrial. Nós conseguimos demonstrar que isso realmente ocorre”, comenta o pesquisador.

Trabalhando com uma amostra de 92 pacientes (30 do grupo controle e 62 pacientes com fibrilação atrial, todos da Rede D’Or São Luiz) os pesquisadores definiram inicialmente o perfil imunológico e caracterizaram com precisão as alterações associadas a fibrilação atrial dessa população. Esses achados serviram de base para investigações com modelos animais.

Fibrilação atrial em camundongos

 O estudo liderado por Medei utilizou camundongos para investigar os efeitos da IL-1β. Os animais receberam doses controladas de IL-1β, visando simular uma condição de inflamação sistêmica prolongada. Os roedores foram acompanhados por 15 dias, período em que os pesquisadores observaram alterações na função do coração, revelando que esse processo de inflamação sustentada deixou os camundongos mais suscetíveis à fibrilação atrial.

Aprofundando os achados, os cientistas também utilizaram camundongos geneticamente modificados que não apresentavam receptores de IL-1β nos macrófagos (células do sistema imunológico presentes em todo o corpo e no coração). Nessa situação, foi possível prevenir a fibrilação atrial nos animais, revelando que a relação entre a IL-1β  e o desenvolvimento da fibrilação atrial pode ser mediada pela estimulação de seus receptores nos macrófagos.

“Além de demonstrar que a IL-1β está associada à fibrilação atrial, fomos capazes de mostrar através de qual célula do sistema imune ela faz isso, os macrófagos. Certamente esta ‘descoberta dupla’ vai contribuir para novas perspectivas terapêuticas nesta doença tão complexa”, comemora o Dr. Emiliano Medei.

IL-1β  como alvo de terapias na fibrilação atrial
Descobrir que a IL-1β pode desencadear a fibrilação atrial tem implicações amplas. Em contextos clínicos, nem sempre é possível determinar a causa específica da fibrilação em cada paciente, mas entender que um único fator, como a IL-1β, está presente em diferentes cenários permite um foco terapêutico mais claro.

O estudo também abre caminhos para o desenvolvimento de novos tratamentos, sugerindo que medicamentos que inibem a IL-1β ou a caspase-1 (enzima que ativa a produção da IL-1β) no coração como apostas terapêuticas promissoras e alternativas viáveis para prevenir o surgimento da fibrilação atrial em pacientes de risco, especialmente aqueles com condições inflamatórias crônicas.

Com uma população idosa cada vez mais longeva e com a prevalência de outras condições associadas à fibrilação atrial, a prevenção e o tratamento eficazes dessa arritmia são questões urgentes para a saúde pública. O atual estudo oferece novas vias investigativas para o problema, reforçando a importância de entender as conexões entre o sistema imunológico e o funcionamento do coração.


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