Cientistas mapeiam como a ayahuasca afeta circuitos do medo em revisão abrangente

RIBEIRÃO PRETO, São Paulo, 3 de dezembro de 2024 - Em um momento de crescente interesse pela medicina psicodélica, pesquisadores sintetizaram uma década de evidências para compreender como a ayahuasca influencia o medo e a ansiedade no cérebro. Uma nova revisão publicada na revista Psychedelics consolida descobertas de estudos moleculares, pesquisas com animais e ensaios em humanos para criar um panorama mais claro de como essa bebida tradicional amazônica afeta o processamento emocional e os sistemas de memória.

A análise, liderada pela Lorena Terene Lopes Guerra e colaboradores da Universidade de São Paulo, examina o crescente corpo de evidências sobre as complexas interações da ayahuasca com sistemas cerebrais envolvidos no processamento emocional e memória, com foco particular em seus efeitos através de dois sistemas distintos de receptores de serotonina.

"Compreender como os sinais coordenam os processos em células, tecidos e órgãos é fundamental para entender as potenciais aplicações terapêuticas da ayahuasca", explica o Dr. Rafael Guimarães dos Santos, um dos autores da revisão. "Ao examinar evidências em múltiplos níveis - das interações dos receptores aos resultados clínicos - podemos entender melhor como essa medicina tradicional pode ajudar no tratamento de transtornos de ansiedade e relacionados ao trauma."

A revisão sintetiza evidências mostrando que os efeitos da ayahuasca envolvem um delicado equilíbrio entre dois tipos de receptores de serotonina: 5-HT2A e 5-HT1A. Essa ação dual parece crucial para compreender tanto os efeitos imediatos da ayahuasca quanto seus potenciais benefícios terapêuticos a longo prazo.

Principais descobertas da literatura revisada incluem:

• O DMT, principal componente da ayahuasca, atua principalmente através dos receptores 5-HT2A para influenciar o processamento emocional

• Os compostos β-carbolínicos da bebida podem atuar através de diferentes mecanismos para afetar memória e ansiedade

• Estudos clínicos sugerem efeitos específicos na extinção do medo e processamento emocional

• Estudos de neuroimagem mostram que a ayahuasca modula a atividade em regiões cruciais para regulação emocional

A síntese das evidências disponíveis levanta questões importantes sobre o potencial terapêutico da ayahuasca. Como otimizar o momento da administração da ayahuasca para tratar condições específicas? Diferentes preparações da ayahuasca podem ser mais eficazes para diferentes propósitos terapêuticos? Como as diferenças individuais nos sistemas de receptores afetam os resultados do tratamento?

As evidências revisadas sugerem que a ayahuasca pode ser particularmente promissora para o tratamento de TEPT e transtornos de ansiedade. No entanto, o Dr. dos Santos enfatiza a necessidade de mais ensaios clínicos controlados: "Embora as evidências pré-clínicas e observacionais sejam encorajadoras, precisamos de estudos clínicos mais rigorosos para compreender as aplicações terapêuticas ideais."

A revisão também examina considerações de segurança e a importância de ambientes controlados para uso terapêutico, observando que a natureza complexa da ayahuasca requer consideração cuidadosa de fatores individuais dos pacientes.

O artigo completo, intitulado "Effects of ayahuasca on fear and anxiety: cross-talk between 5HT1A and 5HT2A receptors", está disponível desde 03 de dezembro de 2024 na revista Psychedelics, podendo ser acessado gratuitamente em https://url.genomicpress.com/2p9dauta.

Sobre a Psychedelics: A Psychedelics: The Journal of Psychedelic Pharmacology (ISSN: 2997-2671) é uma revista médica científica publicada pela Genomic Press, Nova York. A Psychedelics é dedicada exclusivamente aos mais recentes avanços no campo das substâncias psicodélicas e seus potenciais usos terapêuticos. A revista abrange todo o espectro de pesquisa, desde investigações fundamentais até estudos clínicos de ponta, acolhendo diversas perspectivas e contribuições para avançar o entendimento dos compostos psicodélicos.